Depois que seu pai se aposentou, quando Luz tinha 12 anos, a família mudou-se para Bogotá, capital da Colômbia. Anos mais tarde, optou por estudar Enfermagem na Universidade Nacional da Colômbia após sua irmã receber um diagnóstico de uma doença. Fez Mestrado em Educação e após 5 anos vinculada a Universidade, teve a chance de fazer doutorado em um país estrangeiro com apoio da Universidade e da Fundação Kellogg. Chegou ao Brasil em 1995, em São Paulo. Seu doutorado foi em Enfermagem na UNIFESP. Conheceu seu marido no Brasil, se casaram na Colômbia e voltaram a morar no Brasil. Tem uma filha e por meio dela conseguiu um emprego no meio acadêmico. Começou a trabalhar na USCS em 2005 após ser aprovada no Concurso. Desde 2008 é gestora do curso de Enfermagem. |
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Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS)
Núcleo de Pesquisas Memórias do ABC e Laboratório Hipermídias
Depoimento de Luz Alcira Avila Rincón Alves
São Caetano do Sul, 28 de agosto de 2018, 52 anos
Pesquisadores: Luciana Cunha e Luciano Cruz
Equipe técnica: Não identificado
Transcritor (a): Bruno Paulino Rodrigues
Pergunta:
Professora, começa, por favor, dizendo seu nome completo, local e data de nascimento.
Resposta:
Meu nome é Luz Alcira Avila Rincón, quando cheguei ao Brasil acabei incorporando outro sobrenome, então fiquei Luz Alcira Avila Rincón Alves, nasci no dia 23 de dezembro de 1965, nasci em uma cidade próxima da capital da Colômbia, que se chama Cipaquirta, e perto de Bogotá.
Pergunta:
E como foi sua infância, sempre morou nessa cidade?
Resposta:
Eu morei até meus doze anos, aí meu pai se aposentou, e nos mudamos para Bogotá, e minha adolescência e juventude foi lá.
Pergunta:
E como era a família?
Resposta:
Éramos em sete. Cinco filhos, meu pai e minha mãe. Uma menininha morreu com oito anos, e então ficamos em seis. Três mulheres, um homem, dois moram fora e os outros na colombia. Meu pai já faleceu, minha mãe ainda está na Colômbia.
Pergunta:
Você ficou como na família?
Resposta:
Depois que a caçula morreu, fiquei como a mais nova.
Pergunta:
E a infância com seus irmãos?
Resposta:
Eram duas mais velhas e um que era o mais novo, então eu me relacionei muito mais com o mais novo, brincadeiras na Colômbia, podíamos subir em arvores, jogar bola, e eu brincava muito mais de coisas de menino, brincar de Mônica era excepcional, como quando brincava com uma menina mesmo, minha irmãzinha, que estava muito doente, mas eu gostava mais de me mexer, brincadeiras de infância, que parece com as brasileiras. O quintal e a rua eram os locais que se aprendiam, conviviam e viviam. Meus pais não eram muito opressivos nesse sentido.
Pergunta:
Com o que seus pais trabalhavam?
Resposta:
Ele trabalhava em uma empresa, na parte de Departamento Pessoal, mexia com folhas de pagamentos de funcionários, e minha mãe era dona de casa, e se preocupavam muito com a formação dos filhos, e na nossa cidade não havia nenhuma universidade, por isso nos mudamos, pois quando a mais velha terminou nos mudamos, pois esse era o plano, e desde pequena eu os ouvia dizendo que moraríamos lá até meu pai se aposentar, que coincidia com o tempo da minha irmã entrar na faculdade, e ela era um homem muito preocupado com a família[5'], porque na época os homens tinham o pensamento que as mulheres serviam apenas para ter filhos, mas ele pensava diferente, achava que tinham que se qualificar e formar, e nesse projeto sempre veio a vida da família com a formação dos filhos, minha irmã terminou o ensino médio e fomos para Bogotá, aonde concentra muito mais universidades, tanto que ele construiu uma casa e Bogotá para acolher a família. Minha mãe era uma dona de casas sempre ocupada, pois ela teve filho jovem, sempre a cada dois anos, mas uma dona de casa muito atarefada, sempre me lembro dela fazendo muita coisa, não tenho a imagem da minha mãe brincando, lembro de quando eu tive minha filha e brincava com a mesma e pensava que nunca tive essa imagem da minha mãe, pois sempre estava ocupada por conta de cinco filhos e uma doente, então era muita coisa.
Pergunta:
Seu pai cursou uma universidade?
Resposta:
Na época não tinha, então ele foi até o máximo que podia em uma escola na cidadezinha em que ele morava, até o terceiro do médio, e começou a se qualificar com cursos técnicos.
Pergunta:
A estrutura de ensino do Brasil é igual ao da Colômbia?
Resposta:
Sim, tem o ensino básico, ensino fundamental, ensino médio e o superior, mas isso é hoje, pois em 1928 o nível que meu pai chegou era um nível excepcional, e ele contou que, mesmo de formar os filhos, pois a mãe que morreu quando ele tinha 14 anos nunca deixou de deixar os filhos sem estudar, então ele sempre levou isso. Diferente de muitos, todos os meio irmãos do meu pai tiveram filhas e elas não estudaram, já meu pai e todos os filhos da minha avó nos formamos, meu avô sempre passou isso da mulher, e meu pai que decidiu cuidar dos outros e passou aos irmãos, e lembro de meu pai sempre incentivando, e lembro da época da televisão, que eu sou da época do surgimento da TV na Colômbia, meu pai comprou e era engraçado, um ficava de olho, pois meu pai quando chegava e nos via vendo televisão e não fazendo o dever, nos dava ocorrência, e sempre ia alguém ficar de olho, aí todos ficavam fazendo a lição de casa, pois ele falava que era primeiro os estudos, minha mãe também ajudava, mas meu pai era mais duro. Era divertido pois tínhamos um papagaio, e ele sabia que estava chegando[10'], então ficava falando "CORRA, CORRA, CORRA, CORRA!" Pois ele sabia que tínhamos essa rotina, era muito engraçado, e quando o papagaio falava sabíamos que ele estava chegando. Os vizinhos também iam lá em casa, me lembro do dia em que o homem foi na lua, lembro da vizinhança toda na sala, assistindo a chegada do homem na lua, e eu era pequena, em 1969, quatro anos, mas tenho a imagem de todos vendo.
Pergunta - Luciano:
O que mais você via na época, que reunia a vizinhança?
Resposta:
Novelas, séries, e coisas que congregavam seriam as novelas em rádio na época de férias, pois morávamos em uma cidade muito fria, então minha mãe preparava um mingau tradicional de lá e todos sentávamos para escutar a novela, como uma chamada Kaliman, que era de um herói do meio oriente que salvava as mocinhas, e no rádio você ouvia o cavalo chegando, os natais que são muito significativos, e não sei se hoje continua sendo católico pois muitas religiões vinham , mas era assim, sete dias antes do nascimento de jesus as pessoas faziam uma novena, com músicas específicas do natal, e nisso se tornou uma festa, por ser um país latino, a religiosidade juntou-se com uma festa, então sempre se dançava, música caribenha, salsa, merengue, que na minha adolescência foi tudo isso, um momento de paquerar conhecer amigos, férias, que as férias escolares são em dezembro igual no Brasil, então na época de natal tudo começava uma semana antes, e tem uma tradição que no dia sete para oito de dezembro, de noite, todas as casas colocam velas em homenagem a virgem , que proximamente seria mãe, então colocam enfeites com velas, mas eram como luminárias com velas[15'], e nesse dia quando era permitido além, as pessoas utilizavam pólvoras, fogos de artificio, mas não me queimei, e acendiam fogueira. Por isso falam que é a noite das velinhas, e meu pai comprou fogos de artificio muito barulhentos e ele devia ir para frente, só que foi para traz e entrou na manga dele, e ficou na axila. Queimou a axila e a festa acabou, foi terrível. Após isso ele apenas levou os mais leves, mas acho que todas essas experiências acabam impactando na vida da gente, e aí acabou a festa. No ano seguinte fizemos a fogueira, coisa que no dia seguinte já preparávamos, mas a partir daí meu pai chegava com caixas pequeninas e perdeu a graça, isso.
Pergunta:
E era assim nas duas cidades?
Resposta:
Não, na capital mudou, no interior tinha mais espaço e as pessoas eram mais diferentes. Na cidade não tinham as fogueiras, mas começamos a colocar a velinhas, acendíamos fogos de artificio, e depois das novenas eram as festinhas, já que coincidiram com minha adolescência. Fui para Bogotá com doze anos e depois que vim para cá.
Pergunta:
E além do natal tinham outras festividades típicas?
Resposta:
A semana santa era muito forte, de tristeza, se resguardar, mas a semana santa, diferente do Brasil, começava na quarta. Isso sinto falta. Sexta feira as pessoas não podiam fazer nada além de rezar, tinham medo de fazer algo a mais[20'], então semana santa e natal eram as principais na cidade pequena, e para nós ir ao cinema era um máximo, e escolher o filme era legal. Em Bogotá não, muitos cinemas e não haviam muitos filmes para meu gosto, então mudou sim, até porque na cidade pequena era tudo a pé, já em Bogotá era em ônibus, quando fui lá tive de estudar a tarde, e minha rotina mudou toda, e como era um colégio público, e as publicas eram melhor que privados, meu pai nos colocou lá, mas fiava no centro da cidade, e eu ficava no leste, então tinha que ir da Zona Leste para o cetro da cidade, que dava uma hora de ônibus. Foi essa rotina com uma das minhas irmãs que estava no ensino médio, outra estava na faculdade, e teve todo esse processo de adaptação em uma cidade grande, pois tem toda a violência. Hoje está menos perigosa, mas ainda é uma cidade complicada.
Pergunta:
Você se lembra de como se sentiu quando chegou em Bogotá?
Resposta:
A primeira impressão, pois tínhamos frequência de vir ao médico, achei até legal, pois perto da minha casa tinha um parque, que hoje é um dos mais importantes de Bogotá, mas na época o impacto maior foi isso de adolescência com parque era muito legal. A vizinhança era muito mais fechada, no início essa relação de adolescentes introvertidos me impactou, mas depois aprendi, fiz amizades e fiquei na rua, mas não era mais a mesma coisa, era vôlei, basquete, íamos no parque, era interessante.
Pergunta:
Quanto tempo de uma cidade para a outra?
Resposta:
Na época era uma hora, hoje são uns 40 minutos, pois Bogotá andava crescendo.
Pergunta - Luciano:
E essa mudança para o Brasil?
Resposta:
eu trabalhei na universidade da Colômbia, e nesse projeto extensão que era financiado pelo exterior, pela fundação Kellog[25'], tinham um programa em que fazem profissionais irem estudar em outros lugares. Nessa época eu estava vinculada como enfermeira e professora do infantil, e já havia feito mestrado, então me ofereceram estudos fora paras meu doutorado, e nesse processo na Colômbia não havia doutorado, mas fui mandado para ter um programa, e o financiamento veio da fundação, eu deveria ter doutorado em enfermagem, e eu tinha até pensado em fazer no México, mas poderia ter ido aos Estados Unidos e Canadá, mas eu era enfermeira pública, então era muito mais interessante a formação, pois o doutorado não é apenas o título, mas sim a possibilidade de se aproximar da realidade, e no Brasil também tinha, então eu já tinha ficado aqui mas por outros motivo, e eu conhecia o SUS que estava sendo implantado, e na Colômbia estávamos passando por um processo de reformulação da saúde pública, então eu pensei que seria melhor ir para um país parecido, culturalmente, então eu acabei optando pelo Brasil, e inicialmente tudo era previsto para ser em Santa Catarina, mas parece que as coisas te conduzem para levar-lhe para onde deveria estar, eu acredito nisso, até porque já tinha bolsa no México, já estava tudo certo, tudo pronto, e de repente falaram que eu não poderia ir ao México, e acabei vendo o Brasil, estava tudo pronto para Santa Catarina, mas a escola tinha junto a universidade católica do Chile e estavam aceitando candidatas, e eu acabei pensando em São Paulo, e tinha de ser na Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), pois tudo foi simples, como se as portas se abrissem de repente, e você deveria entrar, e por isso você deve seguir, e você deve pensar que é da tradição católica isso, e sim, acho que sim, pois eu penso hoje que por que deveria ser aquilo, e eu penso tanto por que deveria de ficar no Brasil, e as vezes me pergunto qual é meu papel[30'], por que tive de migrar, abandonar minha família e construir outra aqui. Tem que ter um sentido, não pode ser atoa, então se eu estou aqui é para eu fazer algo.
Pergunta - Luciano:
Queria te deixar mais uma pergunta, apenas, a senhora falou que já esteve no Brasil, de todas essas questões de imaginar e do preconceito, como quando vão perguntar para o brasileiro de como é a Colômbia e então eles falam dos cartéis, até porque é o que está na mídia, mas qual seria seu imaginário para o Brasil como foi se alterando, e como que, quando você veio para cá, veio se acostumando, que uma coisa é estar de férias e outra é estar morando, e o que seria aqui.
Resposta:
Olha, na verdade quando eu vim conhecer o Brasil, a visão era mais a de carnaval, samba e futebol, e a gente imagina que seria tudo assim, então essa era a visão que eu tinha, mas quando você começa a conhecer, como turista, de fato, a forma que o brasileiro se relaciona com os estrangeiros, são totalmente acolhedores, na primeira vez que estive aqui não foi difícil, até porque mesmo não sabendo a língua eu comunicava, fazia gestos, sem ser difícil, pois eu era turista, depois quando vim coo estudante, vim em uma que não tinha tanta estrutura como a Universidade de São Paulo, que tinha por causa de intercambio, a UNIFESP, que não sei como está hoje, mas na época não tinha muita estrutura para estrangeiros, e me lembro que fui morar em uma senhora próxima, que a minha professora me indicou, próxima da universidade, dois quarteirões, e era uma senhora de 84 anos. Para ter ideia, eu só sabia cantar o parabéns quando estava em uma festa, e outra coisa que aprendi rápido foi suco de laranja, e porque laranja parece com o modo de falar em colombiano até aprender outras formas de pedir nas lanchonetes, e uma coisa que eu achei interessante de aprender na sala de aula, entendia tudo perfeitamente, pois é uma linguagem especializada, agora quando saia e encontrava aquele nordestino com aquele sotaque arrastado e outros sotaques, eu e eles nos perdiam, e me lembro que uma vez precisava comprar um alicate na farmácia, me mostraram tudo menos um alicate, não lembro como falava, mas sei que saí muito frustrada e tentei aprender, até porque tinha amigas que falavam que não precisava, seriam apenas dois, três anos que eu iria ficar, não precisava[35'], mas eu falei que precisava sim, e aí eu fiz uma coisa que meus amigos colombianos mesmo acharam estranho, me relacionei com pessoas brasileiras, só, e nesse processo conheci meu marido, e acabei trabalhando mais o português, mas agora a relação para colômbia não é diferente, a época era Pablo Escobar, quando eu falava que eu era colombiana falavam guerrilha, e uma vez passei por uma coisa constrangedora, uma vez estava com um colega e um professor, e não era na USCS, e eu estava dando aula, e sempre que meu colega me encontrava, ele fazia assim [gesto], poxa, aí no início levamos na brincadeira, mas teve um dia que ele fez e irritou, eu cheguei e falei perto dos professores e falei que se eu fosse traficante ou consumisse cocaína, não seria a colega dele, se fosse traficante estaria no Caribe fazendo coisa melhor que ter sua companhia, aí ele ficou bravo comigo, não falou comigo por muito tempo, parou de me cumprimentar e os outros até pararam e perceberam que não é assim, mas de resto, até como professora quando digo que sou da Colômbias, e eu trabalho com políticas públicas de saúde, faço questão como trabalhar, falar o princípio do SUS, direitos humanos, e eu trato como eu sofri preconceito e trabalho com os alunos a necessidade de não ter preconceitos, e como as barreiras surgem, então sim, essa questão de ser colombiana tem sim esse preconceito de tráfico, guerrilha, que é muito presente, a sociedade mudou, da última vez que estive na Colômbia vi um país mais mudado para pacificação, pois tive a possibilidade de ver universidades lá, e a USCS teve um projeto de mandar professores para países e eu participei, e tivemos o processo de paz no curso de administração[40'], o processo de paz nos cursos de saúde, pois é necessário na Colômbia, temos uma história de muitos anos, a violência começa na época de 40 e vai até hoje. Somos um povo muito sofrido, mas assim que fomos formando novos laços, e a Colômbia está em outro estado, não como de quando eu saí em 1980, é outra Colômbia, outras matrizes focadas na cultura e crescimento, é outro foco.
Pergunta:
A gente também fez uma entrevista com o professor do curso de arquitetura, e contando sobre a cultura, e além do que ele contou, a Colômbia é um dos grandes polos que representam a arquitetura, e ele teve uma experiência, na qual ele gostou muito, pelo menos recentemente, que era um local com problemas, e então transformou a sociedade inteira, e ele contou impressionado, falando no quanto o investimento na educação mudou muito, e a arquitetura do local também.
Resposta:
Sim, a Colômbia tem uma preocupação, primeiro com a questão da cidade, o espaço urbano do cidadão, inclusive em uma proposta de cidades saudáveis, por exemplo, quando você chega em Bogotá, uma coisa que me impressionou, a rede de transporte urbano interliga bibliotecas, construíram ao longo das redes bibliotecas pela cidade, tem uma até, que se não me engano, se chamava Livros com Asas, e deixavam os livros nas estações do transporte público, antes do Brasil, deixavam os livros, as pessoas levavam o livro, se não gostassem elas deixavam e se gostassem levavam embora, então acabou sendo um exemplo de cidadania, me lembro na época que eu morava lá, que senti diferente do Brasil, por ser uma metrópole, em São Paulo a vida era muito corrida, lá tinha um prefeito que quando o motorista fazia uma coisa certa, o pedestre tinha de fazer um sinal de legal, o contrário o mesmo, e fizeram desenhos para dar, e se você estava no ônibus e via o motorista fazendo alguma coisa errada mostrava, então essas coisas que ajudaram, e Bogotá tem isso, mas Medelín sofreu muito mais com o tráfico, já Bogotá era mais segura por ser a capital do governo, mas Medelín sofreu muito mais dos conflitos, acredito que ele estava fazendo uma menção à Medelín, pois mudou em tudo, acredito que ele esteja falando isso, mas eu digo que oi processo de guerra fez o país repensar sobre isso e foi muito positivo.
Pergunta:
E quando você era pequena e morava lá, tem lembranças disso, narcotráfico, guerra?
Resposta:
Na cidadezinha pequena não[45'], já em Bogotá, na verdade comecei a ter mais noção em Bogotá, quando morei em Bogotá comecei, pois primeiro pela proximidade, a gente via policiais na rua, e era a época de narcotráfico e guerrilhas, movimentos armados também praticavam terrorismo, o tráfico foi depois com Pablo Escobar, mas a questão do narcotráfico foi apenas em Bogotá, até com o contato com a droga, foi em Bogotá mesmo, na antiga cidade se ouvia algo, mas era bem raro, mas em Bogotá você vê, convive, e na época tiveram vários atentados terroristas, na minha adolescência, até o Escobar.
Pergunta:
E voltando para perto de você voltar para o Brasil, como era, você morava na primeira cidade, Bogotá, ficou até?
Resposta:
Com 12 anos eu estava em Bogotá, fiz meu ensino médio, comecei a faculdade, mas para poder ser enfermeira precisei passar por várias etapas, pois quando sai do ensino médio não sabia o que fazer. Prestei vários concursos, vestibulares, e para minha sorte passei em todos, e optei para a pública, nacional da Colômbia, e na época eu queria muito ser bióloga, amava biologia, e lá tinham lugares que levavam estudantes e me contavam maravilhas, viajar, conhecer o mar, que eu não mergulhava, mas eles diziam que sim, mas que maravilha, idealizei a biologia, só que o curso começou em março, no mês de Abril, na época tinha uma luta maior militarmente, e a faculdade era bem celeiro de ideias e luta, e os estudante saiam e se enfrentavam com a polícia, queimavam ônibus, e eu entrei em março, no mês de abril teve esse confronto, e em um desses mataram um estudante dentro da universidade, e essa tragédia fez fechar a universidade por um ano, aí eu fiquei de férias, prestei vestibulares e entrei em algo relacionada a biologia. Fui fazer um curso de química. A universidade voltou a funcionar, e eu estava em duas, uma para ser professora de q1uimica, e na outra fazia biologia. Faltei em uma aula, em outra, foi uma loucura aquele semestre. Isso eu estava em 1989, mais ou menos. Me desculpa, 1983, pois em 1989 eu terminei a faculdade[50'], aí eu comecei a repensar minha vida, e me vi confusa, çois perdia aula em tudo, estava indo mal nas notas, mas eu pensava em uma coisa que coincidia, e por isso foi enfermagem. Minha irmã recebeu um diagnóstico de uma doença muito ruim, e eu comecei a repensar, e eu entrava no laboratório de química e pensava, aqui não tem vida, e na biologia, mas estava no primeiro semestre e pensava por não ser o que eu quero, e eu sempre gostava de me relacionar, tanto que quando eu era pequena, uma vizinha pedia para eu ser emprestada, por ser falante, e fazia companhia, então sempre gostei disso, então eu olhava as paredes, se puder ir na nacional da Colômbia, e eram antigos os laboratórios, paredes e tetos altos e frios, e eu falava que não era o que eu queria muito frio, precisava de outra coisa, e coincidia com o diagnóstico, e eu optei por enfermagem e não medicina, mais próximo das pessoas e me permitiria dar cuidado ,confortar, conversar, e fui estudar na Nacional. E a pergunta era o que aconteceu nesses anos. Nesse processo, quando se termina na época o ensino superior, você era obrigado a fazer um ano de serviço social, o governo não dá cartão ou registro até você fazer isso, até pois você era testado no conhecimento, até reforçando o que havia sido aprendido[55']. Podia até ser formado, mas não era reconhecido, e tinha nessa época um projeto de excursão que trabalhava com comunidades carentes, e pensei que seria interessante trabalhar com pessoas marginalizadas, que já havia na época, e eu prestei para entrar como enfermeira de saúde pública, e fui para um projeto de atendimento de projeto infantil que ajudaria no serviço comunitário, e fui trabalhar com comunidades pobres, fazendo pré natal, vendo gestação, vacinando crianças, lidando com adolescentes, e nesse processo eu entrei como professora da parte de materno infantil, então eu acompanhava estágios, e como eu já estava na docência, e em um bom dia me chamaram e falara que tinha uma proposta de bolsa para aqueles que quiserem ir à outros países. Eu já era professora e enfermeira, estava solteira e achei muito boa a oportunidade. A bolsa me paga tudo, eu apenas tinha de estudar, e eu disse que sim, e em 1995 eu venho para cá fazer doutorado.
Pergunta:
Mas quando você terminou a enfermagem, é como se fosse um trabalho voluntario aquilo?
Resposta:
A gente é remunerado, mas muito pouco, e percebemos que ainda dependemos da família, e na Colômbia, se ficava na área de guerrilha eram seis meses, pelo risco, e se fosse em área rural era um ano, mas o salário era baixo, ganhava pouco, e tinha de ganhar.
Pergunta:
E como chegou à docência?
Resposta:
Como era um projeto da universidade, sempre tinham alunos e professores próximos, então abriram vagas para enfermeiros e eu entrei. Das cinco enfermeiras apenas eu fiquei trabalhando, e ao longo do tempo, que eu não havia saído da universidade, acompanhava ainda a evolução, me tornei até amigos de professores, comecei na docência por ser interessada, então me vinculei, foi um processo até natural por eu estar na universidade, e aí e recebi a proposta. Fiz o mestrado por minha conta de educação, e eu procurava como fazer enfermeiros, e nesse processo de qualificação, pois temos muito a fazer, e sempre pensei nisso, em fazer coisas diferentes, e fiz o mestrado para responder inquietações, e até pelo trabalho que eu fazia, abordava no curso sobre a parte acadêmica do ponto de vista da universidade, mas também no comunitários, tanto que um dos cursos ocou no popular.
Pergunta:
E o que é ser enfermeiro hoje para você?
Resposta:
Olha, também depende muito do ponto de percepção[1:00'], já passei por vários momentos, até já disse que não queria mais ser, mas hoje ser enfermeiro é um desafio, poia aqui no Brasil ser enfermeira é um desafio formar enfermeiros para uma sociedade que ainda não se enxerga a prevenção para evitar coisas maiores, temos mais coisas voltadas para curativos, e por ser enfermeira preciso focar em prevenção, e ter novos enfermeiros é um desafio por isso, e uma outra coisa que eu acho que está aí como desafio que é formar enfermeiro, significa focar na necessidade do paciente, que hoje chamamos de cliente, a questão da empatia, humanização, ter conhecimento, ser enfermeiro é saber, saber enfermagem e ser enfermeiro, para poder assim passar para os outros, e ter, pois as pessoas quando estão sobre cuidados, eles não estão aí pois pensam que estão bem, se estivesse bem não estaria aqui, mas talvez no futuro mude isso, mas ser enfermeiro para mim é essa questão da doença, cuidar, e intervir os processor de saúde.
Pergunta:
E então você terminou o mestrado e ficou na universidade.
Resposta:
E acompanhei os estudantes, recebi um reconhecimento como docente vinculada ao departamento, e então recebi a proposta do doutorado em outro país para voltar e criar o programa por lá, essa era a ideia deles, e com essa intenção vim aqui. Cheguei em Cumbica, e contei os anos, mas acabei ficando.
Pergunta:
E o que te fez ficar aqui?
Resposta:
Primeiro pois me apaixonei pelo Brasil e por um brasileiro. Conheci meu marido em uma universidade, alguma disciplina de saúde pública da USP, e ele também trabalhava na UNIFESP, e um dia nos conhecemos num evento de exposição de livros da minha professora, e depois nos encontrávamos nos lugares mais óbvios[1:05'], a acabamos nos aproximando. E ele fez uma disciplina igual a mim, então ficamos na mesma sala, nos aproximamos e acabei tendo de tomar uma decisão, Colômbia ou Brasil. Me casei na Colômbia, ele foi lá e casou comigo, e pensamos o que faríamos depois. Na universidade pensei, mas de qualquer maneira fiz minha pesquisa de doutorado na Colômbia e me desvinculei da universidade, e pelo meu marido estar mais consolidado aqui do que eu que teria de buscar emprego, e também por eu falar melhor português, ficamos aqui. Procurei emprego. Quando eu ia para os lugares falavam de eu ter perfil para professora, mas eu sempre quis começar com enfermagem, e chegava nos hospitais, mas sempre falavam aquilo, e pensei mesmo em dar aula, mas é diferente, pois teria de falar português perfeitamente. Comecei em um processo engraçado. Meu marido é professor de faculdade e disse que eu mandaria o currículo, mas eu sempre havia uma desculpa. Quando minha filha nasceu repensei as coisas, não poderia ficar dependente, tenho uma filha e não posso depender de um homem que me sustente, preciso de algo. Coragem, até lembro que meu marido disse que saiu uma vaga e mandei meu currículo. Me chamaram quando tinha dois meses. Fui lá e me contrataram, deixei a menina com três meses na creche. Esse berçário eu falo muito bem, pois lá que me ajudaram a cria-la, já que eu não tinha aquela família que todos têm, então estava perdida, e quando viramos professoras, a coisa é mais complicada. Me virei com empregada, berçário, e passei muito com empregadas, pois são caras, aí contratava algumas pessoas, mas haviam complicações. Hoje ela já tem 15 anos, adolescente[1:10'], já pensa em fazer arquitetura, já até falei com o gestor e ela falou com ele e comentou. Então fiquei aqui, casei constitui família e falo que trabalho pois a sociedade brasileira pode ser melhor, o que tenho para contribuir vou ajudar, pois me acolheram, depois fiz concurso na USCS, me chamaram para trabalhar, depois me chamaram para coordenar, e agora coordeno enfermagem desde 2008, feliz, pois aqui me sinto como se estivesse em casa, minha família, já que não tenho no Brasil, luto pela universidade, e aqui a proposta é muito diferente de outras, acreditamos que a educação transforma e trabalhamos nesse sentido. Vejo na reitoria, nas propostas, uma educação, ensino diferenciado, um ensino que tenha significado e transforme vidas, pois eu digo que o ensino superior, a educação é a única chance que o indivíduo tem de se ascender, pois infelizmente não temos outras formas, eu não vejo outras formas nessa sociedade de se ascender na escala social. Ensino, o que te permite um melhor salario, os programas sociais não são para todos, mas deveriam, temos uma desigualdade muito grande.
Pergunta:
Então você teve sua primeira experiência, e ficou lá por quanto tempo?
Resposta:
Um ano, e depois fui para outra, e depois eu comecei a dar em duas, naquela fiquei 14, e aqui comecei em 2005.
Pergunta:
Como você soube nosso nome?
Resposta:
Vim morar no ABC, então descobri uma universidade, o IMES, que tinha o curso de enfermagem e decidi prestar, e entrei, e foi assim que eu soube, pela referência.
Pergunta
Você tem lembranças do primeiro dia como professora ou do concurso, alguma coisa marcante?
Resposta:
Alguma lembrança? Do concurso eu lembro de um assunto que eu dominava, pois eu sabia que deveria estudar a política pública de saúde, então estudei muito, e quando caiu me senti muito bem, pois sabia que falaria certo, e então assim entrei. Nos primeiros dias de aula fui dar aulas de enfermagem e fisioterapia. Eram salas diferentes, e me lembro de um professor muito importante nesse processo, e faço questão de falar do Panfilho, gestor de fisioterapia, que foi muito importante, pois me lembro de uma vez om minha filha pequenas, eu cheguei e falei, na época abaixaram a minha grade de aulas, e se não me engano teve algo de noite, e eu com filha, cheguei na sala e disse que sairia, pois para mim não compensaria apenas duas horas, meu salário era para babá e pensei muito e falei para pedir as contas. Ele falou para eu pensar, não fazer isso, entrar com um projeto de extensão. Eu disse que gostaria de trabalhar com hipertensos, pessoas com problemas na diabete, e ele me incentivou. Saí pensando, eu ia fazer a carta, cheguei em casa e eu fiz meu projeto. Não me demiti. Aí, no semestre seguinte elaborei o projeto e foi aprovado. Comecei ele com mais professores e fiquei.
Pergunta:
Você entrou em 2005, certo? Esse projeto começou quando?
Resposta:
Dois mil e sete, mas não tenho a cronologia exata.
Pergunta:
O curso foi sempre no Campus Centro?
Resposta:
Na verdade não, mas eu não estava nessa época, no inicio era na Estrada das Lágrimas, depois construíram um prédio e mudaram lá, quando entrei na USCS já estava no Campus Centro.
Pergunta:
E como foi receber o convite da gestão?
Resposta:
Na verdade quem me deu o convite foi o professor Turíbio, e acredito que o Panfilho sabia, mas antes de eu ir para a gestão, pois eu tive um outro curso como gestora em outra instituição, eu já tinha experiência[1:20'], aí a professora Alisson do curso de enfermagem me chamou para ser gestora do curso de enfermagem [__], e então comecei a trabalhar como coordenadora, e depois disso tive uma boa repercussão e me chamaram, também teve o Cilto, que eu trabalhava com ele, e acho que ele teve algo relacionado, já que trabalhamos junto, e da pós fui chamada para ser Gestora do curso, e na seguinte gestão, o professor Bassi, com o Bife me chamaram para a gestão, e nessa gestão fiquei.
Pergunta:
E como é o dia a dia na gestão?
Resposta:
Eu estou apenas na USCS, e nunca deixei de ser professora por um princípio, acho que o gestor ainda está na sala de aula e tem uma missão diferente, você acaba tendo uma visão diferente, pois pode sofrer como professor e gestor, e isso muda a visão. Hoje concilio os dois, sou professora, vivencio as questões da docência, e como gestora também.
Pergunta:
A gestão, como é?
Resposta:
O dia a dia do gestor é de relacionamento com aluno, o do aluno com a instituição, então temos também o aluno com as instituições fora organizar eventos com significados para os alunos, planejar o futuro do curso, pois não observamos apenas longe, mas sim manter o curso com alunos, a concorrência é grande, muitos cursos de enfermagem aqui, e basicamente seu trabalho de mediação de conflitos que não deixam de ocorrer.
Pergunta:
Você acha eu há muita diferença entre os alunos do Brasil e os que você conviveu no início?
Resposta:
um perfil diferente, pois o da universidade que eu trabalhei era um de pública, ele sabia que a vaga dependia dele mesmo, ele lutou para entrar e se perdesse a vaga teria de pagar bem caro, então o aluno, na época era muito dedicado, pois sabia que podia reprovar, então hoje, o aluno, naquela época, hoje não sei mais, me desvinculei, mas hoje o aluno é diferente, até pois quando eu saí não haviam tanto direito quanto se tem hoje[1:25'], o professor era o professor, o aluno, o aluno, hoje essa relação me faz pensar de uma tradição, então não há mais o professor durão. Os alunos mudaram muito, hoje o aluno tem uma percepção diferente da universidade, não sei como qualificar, mas ele chega pensando muitas vezes que o ensino superior é uma extensão do ensino médio, uma geração menos preparada do que a anterior. É o que me parece, inclusive quando pego alunos do primeiro semestre, tem modos imaturos que fazem com que até psicólogos pensem e falam, estamos pegando uma geração que muitos jovens chegam muito despreparados para o ensino superior, pois quando eu falo das responsabilidades é entender que o professor conduze, mas dessa vez orientamos, damos o início para o aluno se ter como autônomos, é o que temos de fazer, com que possam buscar o conhecimento. Então, a geração de hoje, os jovens que eu estou interagindo me passam essa falta, precisam de amadurecimento no nível superior.
Pergunta:
Ao longo desses anos, tem alguma história que você viveu, um aluno, formatura, algo?
Resposta:
Tem muitas histórias com alunos para contar, pois tem momentos que você se emociona. Eu sinto que aquelas histórias que tem coisas que o mastercard não paga, e aquela pergunta do por que eu precisava vir para o Brasil. Um significado, por exemplo, quando alunos mandam e-mails agradecendo ao que fiz, esses que são positivos, e vou falar primeiro dos alunos. Também estou tendo uma experiência única na universidade, que eu nunca fiz. Eu estou dando aula na universidade sênior, e meus alunos me emocionam o tempo todo, e vou falar de prevenção de doença, mas eu até brinco falando que vu brincar, e sempre que termino eles me emocionam, como, por exemplo, terminamos o bimestre, duas turmas, tive duas, e no último dia havia uma mesa cheia de bolos[1:30'], refrigerante, e antes de iniciar a aula me falaram que tinham um presente. Um cartão com assinaturas e me presentearam com um chalé. Eu vesti e depois me abraçaram. Essas coisas, vivencia, e uma faixa de idade na qual á estou me aproximando, estou entre os adolescentes e idosos, me aproximando, então tem sido muito gratificante, são muito carinhosos, e eu também tenho minhas carências, e como professora e ser humana me enriqueço e sentindo saudades da família, e aprender a conviver fora do país sem a família. Em relação aos professores, nós temos um grupo de enfermagem, de profe3ssores próximos, mas é mais profissional. Alguns tem vínculos ais pessoais, mas é muito ressinto e educação. Isso eu não encontrei as outras universidades, é um espirito de um se sentir ameaçado, então aqui não tem isso de pensar, não há competição que nem nas outras, que professores até passam por cpoisas desagradáveis. Aqui tem respeito, somos o que somos e não temos essas situações, que nos tornam mais amigos agora.
Pergunta:
O que a USCS representa hoje na sua vida?
Resposta:
O que representa? É uma parte da minha família, aqui tem algo que não encontrei em nenhuma universidade que fiquei, que é a associação de professores, isso é muito legal, pois é um momento que se confraterniza, se identifica como uma pessoa na universidade. Nela, para mim é uma extensão da minha família, e é uma razão de estar no Brasil, que também significa muito na minha vida, como família e filha, linda, adoro de paixão, meu marido que dá significado, família, posso dizer, mas se não está feliz o trabalho não é legal, então o que a USCS é para mim? Num projeto de vida, significa além de dar sentido ara minha vidam, um lugar que posso dizer que me sinto acolhida, que eu posso ser eu mesma, que sou a luz. Responderia assim. Sou feliz aqui, me sinto feliz, bem. Esqueço que sou estrangeira, me sinto parte do país, parte de um projeto.
Pergunta:
E de onde vem a origem do seu nome?
Resposta:
Meu pai, não sei o que é que ele tem, pois uma filha se chama Clara e outra Luz[1:35'], então tem algo, mas é interessante, pois falo que meu nome é composto, tenho o nome comercial e de família. Quando estou fora de casa, sou Luz. Em casa sou Alcira. Na Colômbia sou Lucita, e na minha mãe é Alcirita, então tem diferentes maneiras, mas aqui no Brasil, não conhecem a Alcira, mas a Luz conhecem, tanto aqui quanto em outras instituições, e é interessante. Quando criança eu era Luz, mas eu tinha um vizinho que me deu um apelido que era Lamparina, e quando me tornei adolescente, tirei meu nome Luz e deixei Alcira. Adolescência e faculdade Alcira, mas no Brasil voltou a ser Luz.
Pergunta:
Nossa, que legal. E como fica sua relação com a Colômbia, família?
Resposta:
Perdemos nosso pai, então lá ficaram duas irmãs e minha mãe, e os dois menores e eu migramos, meu irmão na Bélgica e eu aqui, mas primeiro vou vê-lo lá. Então tenho uma relação que digo que, por parte de pai, temos uma chácara, e digo que até hoje vou lá, hoje digo que não iria me desfazer, pois penso que um dia voltarei lá e morarei por lá. Minha filha até chora, mas sim. Mas bom, se eu morrer antes fico no Brasil, não tenho o trabalho, mas se um dia puder voltar, voltarei. Me imagino idosa na Colômbia, mesmo sabendo com os pés no chão que pode não ser, mas vamos deixar o tempo falar.
Pergunta:
E sua filha fala espanhol e português?
Resposta:
Sim, fala melhor o português por morar e se alfabetizar aqui, mas ela fala bem espanhol, e eu faça questão de que ela estude espanhol, e quando as tias falam espanhol, ela não é muito fluente e tem sotaque, por culpa minha, já que precisava aprender português, aqui em casa se fala português, mas é importante, de eu não falar espanhol, mas sim o português, mas ela fala bem o espanhol.
Pergunta:
E a família do seu marido, como foi?
Resposta:
Com minha família não há muito contato, já que não se fala espanhol, então isso é uma barreira, mas quando levo para Colômbia é difícil. Aqui é uma família de origem italiana e portuguesa. Do lado português, é uma família tradicional e fria, do lado italiano é mais calorosa, mas em termos gerais me dou bem, mas família é família, que damos um nome, nossa mãe, nosso alicerce, mesmo distantes, e hoje com todos os meios de comunicação que encurtaram as distancias, sempre ligo, então mato as saudades na telinha, assim os laços não se romperam, me sinto mais próximas da minha família da Colômbia e também alguns daqui, e é isso, a relação é assim, se preciso eles estão aqui, mas meus sentimento são maiores pela de origem , mas sinto que estão aqui, até porque nos encontramos sempre, vamos ir ver meu irmão, quase todos, já vieram todos ao Brasil reuni na minha casa, meu irmão veio, da época, na Venezuela, é cassado com uma, e estão na Bélgica. Vieram todos, foi uma loucura mas foi bom. Meu apartamento, na época, tinham muitas pessoas, mas de 15, fomos para praia e tudo, depois meu pai faleceu. Hoje não está completa, mas tenho a todos.
Pergunta:
E você mora em São Caetano?
Resposta:
Moro sim, estou morando há oito anos aqui, morava em São Bernardo. São Paulo, São Bernardo e agora aqui. Minha filha nasceu lá, seu nome é Sophia.
Pergunta:
Tem alguma coisa que você deixaria de deixar registrado?
Resposta:
Mais para todos, pois aqui, as pessoas na universidade, falar da virtude, que desenvolvam seus potenciais, diria para minha filha também, caso ela veja minha fita, quero que ela veja que eu veja ela se formando e sendo feliz, pois é assim que eu sou, quero que as pessoas sejam felizes, pois só temos isso, contribuir com a sociedade brasileira. Quero que você seja feliz, você também, pois só queremos fazer o bem, para onde quer que seja[1:45'], fazer o bem. E é isso. Eu me pauto na minha vida pessoal nesse sentido. Estamos aqui respondendo aquela pergunta de porque estamos aqui, para fazer o bem, isso. E pode dizer que é religioso, ateus, cristãos, os ateus também têm princípios, de fazer o bem. É isso. Se nos faz bem, temos de fazer o mesmo.
Pergunta:
Obrigada, professora.
Resposta:
Imagina.
Lista de siglas:
IMES: Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul
USCS: Universidade de São Caetano do Sul
UNIFESP: Universidade Federal de São Paulo
USP: Universidade de São Paulo